Hanseníase: pacientes contam histórias de preconceito e superação
Pacientes relatam falta de conhecimento dos profissionais de saúde e enfrentam discriminação
João Victor Pacheco, 28 anos, descobriu que tinha hanseníase aos 17 anos, quando trabalhava como padeiro. A diminuição ou perda da sensibilidade térmica é um dos sintomas da doença. Desde então, ele se tornou um ativista e luta pela conscientização sobre a hanseníase.
No entanto, João relata que buscar o diagnóstico já é um grande desafio. Ele afirma que muitos profissionais de saúde não possuem o conhecimento necessário e não realizam os exames adequados. Segundo ele, se sua família tivesse sido examinada em 2014, ele poderia ter evitado o reinfectamento em 2017.
O jovem mora em Cuiabá, capital de Mato Grosso, estado considerado endêmico para hanseníase. O estado já ocupou o primeiro lugar no ranking brasileiro de casos por muitos anos. João questiona a falta de serviços adequados mesmo diante do grande número de casos diagnosticados.
Além do desafio do diagnóstico, pacientes de hanseníase enfrentam o preconceito e a discriminação. João afirma que o preconceito faz parte da realidade, mas ressalta a importância de desconstruir essas ideias pré-concebidas. Ele reforça que o preconceito é prejudicial quando é direcionado a ele, mas não deixa de reconhecer que pessoas esclarecidas também podem ser preconceituosas.
Marly Barbosa de Araújo, técnica em nutrição e moradora de uma área nobre em Brasília, também denuncia a falta de conhecimento dos profissionais de saúde sobre a hanseníase. Ela relata que o seu diagnóstico tardio se deu devido a falhas no atendimento, já que precisou passar por várias unidades até conseguir uma resposta.
Marly destaca que sofreu um “preconceito ao contrário” dos profissionais de saúde, pois por morar em uma área de classe média alta, eles não consideraram a possibilidade de hanseníase. Ela enfatiza que a doença não escolhe classe social e é importante desmistificar esse estigma. Marly enfrentou até mesmo o preconceito de uma vizinha, que insinuou que o valor do seu apartamento poderia ser afetado pela doença.
No Brasil, segundo as informações do Ministério da Saúde, entre janeiro e novembro de 2023 foram diagnosticados pelo menos 19.219 novos casos de hanseníase, um aumento de 5% em relação ao mesmo período de 2022. Mato Grosso continua liderando o ranking das unidades federativas com maiores taxas de detecção da doença.
A hanseníase continua sendo um desafio no país, não apenas no diagnóstico, mas também na luta contra o preconceito e na conscientização da população e dos profissionais de saúde. Ações de educação e informação são fundamentais para combater essas barreiras e garantir um tratamento adequado e digno para os pacientes.
Alô Valparaíso/* Com as informações da Agência Brasil/Foto: SMS de Mesquita/RJ