Consumo de ultraprocessados aumenta incidência e morte por câncer, aponta estudo
Oncologista explica resultados de pesquisa feita no Reino Unido com quase 200 mil participantes
Um estudo feito no Reino Unido apontou que o maior consumo de alimentos ultraprocessados aumenta o risco de desenvolver câncer, inclusive tipos raros da doença, como o câncer de ovário. Ainda segundo a pesquisa, o consumo desses alimentos também aumenta a chance de mortalidade relacionada à enfermidade. Ouvimos um especialista do Hospital Universitário Professor Edgard Santos, da Universidade Federal da Bahia e vinculado à Rede Ebserh (Hupes-UFBA/Ebserh), que explicou um pouco mais sobre a relação entre a alimentação e a doença.
O estudo foi publicado em janeiro deste ano na revista científica The Lancet e contou com 197.426 pessoas registradas na base de dados UK Biobank. Os participantes tinham entre 40 e 69 anos e foram acompanhados até janeiro de 2021. A pesquisa foi realizada com dados alimentares correspondentes ao período de 2009 a 2012.
São considerados alimentos ultraprocessados formulações com pouca composição nutricional e altos índices de gordura, açúcar e substâncias sintetizadas. Refrigerantes, sopas instantâneas, salsicha, bacon e hambúrgueres são exemplos.
Segundo dados do estudo, o incremento de 10% no consumo de alimentos ultraprocessados aumentou em 2% o risco de câncer. No caso do câncer de ovário, o aumento foi de 19%. Os pesquisadores também identificaram um aumento de 6% para o risco de morte derivada do câncer, com aumento de 16% para o câncer de mama e 30% para o de ovário. Até o final do estudo, 4 mil pessoas haviam morrido de câncer e 16 mil tinham desenvolvido a doença.
Carlos Benevides (foto ao lado), oncologista do Hupes, explica que o câncer se caracteriza pelo crescimento desorganizado das células. “No funcionamento normal, as células se dividem, renovando os tecidos e mantendo a função dos órgãos”, explica. “No câncer, essa divisão celular é contínua e desordenada, levando à formação de massas de células de crescimento contínuo que recebem o nome de tumores. Essas células também podem migrar para outros órgãos, formando novas lesões, processo que chamamos de metástase”.
Segundo o oncologista, as causas que contribuem para o desenvolvimento do câncer são multifatoriais e têm como eixo central o envelhecimento. “Com a velhice, nossas células passam a não desenvolver copias idênticas durante o processo de renovação celular, acumulando falhas no DNA que podem culminar em câncer”, afirma Benevides.
Nesse contexto, algumas substâncias — chamadas de carcinógenos — interagem diretamente no processo saudável de divisão celular e aumentam o risco de desenvolver a doença. Cigarro, álcool e alimentos defumados e com conservantes químicos são exemplos de produtos com carcinógenos.
“Esse tipo de alimento é absorvido mais rapidamente pelo organismo. Por isso, a saciedade após as refeições é menor e o indivíduo acaba se alimentando com maior frequência ou em maior quantidade”, afirma Benevides. O médico explica que a sobrecarga calórica pode levar à obesidade, diabetes e outras doenças metabólicas, além de fazer com que o organismo siga um padrão disfuncional com maior atividade inflamatória, o que pode servir como gatilho para a formação do câncer.
De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o consumo de alimentos ultraprocessados no Brasil saltou de 12,6% entre 2002 e 2003 para 18,4% entre 2017 e 2018. O câncer é uma das principais causas de morte no mundo. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), estima-se, para o triênio de 2023 a 2025 no Brasil, a ocorrência de 704 mil novos casos da doença.
São considerados alimentos ultraprocessados formulações com pouca composição nutricional e altos índices de gordura, açúcar e substâncias sintetizadas
Alô Valparaíso