Doação de córneas possibilitou mais de 100 transplantes no DF em 2022
O trabalho intenso e permanente, leva muitos a enxergar a vida com outros olhos e envolve fases que precisam ser cumpridas com urgência. Além disso, o processo requer, além dos procedimentos cirúrgicos, acordo com familiares dos doadores
De janeiro a abril, a equipe do Banco de Olhos do DF, situado no Hospital de Base, já captou mais de 200 córneas em todo Distrito Federal e executou 118 cirurgias de transplante. O trabalho intenso e permanente, leva muitos a enxergar a vida com outros olhos e envolve fases que precisam ser cumpridas com urgência. Além disso, o processo requer, além dos procedimentos cirúrgicos, acordo com familiares dos doadores.
A córnea compõe a parte anterior do globo ocular, só pode ser doada após o falecimento e deve ser captada de seis a 12 horas após a parada cardíaca. Trata-se de um tecido transparente e que desempenha papel fundamental na formação da visão. Vítimas de doenças como a ceratocone (a mais comum), o leucoma e também a queimadura ocular têm indicação médica para receber uma nova córnea e, assim, retomar a vida com normalidade. Mas o processo não é tão simples, além da autorização familiar, passa pela retirada do globo ocular e uma análise criteriosa para que possa seguir para o transplante.
A ação é diária e feita pelos enucleadores, conforme explica a médica responsável técnica pelo banco de olhos, Micheline Lucas Cresta. “São técnicos que vão ao local onde o corpo está, podendo ser o IML, um necrotério, centros cirúrgicos de hospital, entre outros, e realiza a captação que leva no máximo uma hora. O banco funciona 24 horas”, diz.
O tecido é armazenado em três câmaras frias com temperatura de 2ºC e a 8ºC e a sorologia do doador é verificada, com o auxílio do Hemocentro de Brasília. É preciso averiguar a possibilidade de contaminação por doenças infecciosas causadas pelo HIV ou hepatites B e C, por exemplo.
Resistência e desinformação
A córnea pode ficar armazenada até 14 dias, ganha uma numeração e seu receptor é apontado pela Central Estadual de Transplantes (CET) que sistematiza uma fila de espera para cada unidade da federação. De acordo com Micheline, o desconhecimento e o medo ainda impedem famílias de serem solidárias com quem precisa. “Nosso objetivo é evitar que a família tenha qualquer trauma ou culpa em relação a isso. São colocadas próteses no lugar do olho retirado e o velório pode ser realizado sem problemas”, explica a médica oftalmologista. “Não fica qualquer indício que o globo ocular foi manipulado”, complementa Micheline.
Diferentemente de órgãos como o coração – que precisa ser transplantado em no máximo quatro horas – e o fígado – em até 24 horas –, por exemplo, a córnea tem esta “sobrevida” de vários dias. Já a fila de espera por uma córnea, segundo a médica, é atualmente de oito meses. A média de transplantes feitos no DF em 2022 é de cerca de 30 por mês, três vezes mais que o de fígado, por exemplo, segundo números da CET. Pessoas com idade entre 3 e 75 anos estão aptas a doar.
Alô Valparaíso/*Com as informações de Correio Braziliense