Histórias de amor e superação marcam o Novembro Roxo
Mês que marca a campanha global de prevenção e cuidados. No Hospital Regional de Taguatinga, referência na área, técnica aproxima mãe do bebê prematuro durante o desenvolvimento dos primeiros meses
Sem sequer imaginar, a dona de casa Jéssica Ribeiro, 33 anos, entrou em trabalho de parto com apenas 24 semanas de gestação do pequeno Benjamim. Graças à rápida atuação da equipe multidisciplinar do Hospital Regional de Taguatinga (HRT), o recém-nascido considerado prematuro extremo (com menos de 28 semanas) recebeu os cuidados necessários para que pudesse lutar pela vida.
Depois de três anos, ao visitar a Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (Utin) do HRT, onde o pequeno Benjamim esteve por três meses, a emoção tomou conta de Jéssica. Foram quase 90 dias de agonia, ansiedade e insegurança, em 2020, para que o recém-nascido conseguisse se desenvolver bem.
“Hoje foi a primeira vez que estive novamente na Utin. Na época, de três em três horas eu precisava passar para ver meu filho. Quando estive na unidade hoje, minhas pernas tremeram, vieram muitas lembranças. Uma vez, meu filho convulsionou e ficou todo preto. Pensei que ele estava sem vida. Hoje, o vi correndo por aqueles corredores. Foi uma fase que me fortaleceu, mas foi muito difícil. Nunca me vi mãe de prematuro”, compartilhou.
Por mais de 40 dias o pequeno Benjamim precisou de acompanhamento 24 horas por dia na unidade neonatal. “Assim que nasceu, foi encaminhado direto para a Utin, respirava sozinho, mas depois vieram as complicações, como apneia, convulsões, infecções hospitalares e uma suspeita de meningite. Ele precisou ficar 15 dias entubado. Esse foi o pior momento para mim. Depois de 42 dias na Utin, ele foi para Ucin [Unidade de Cuidados Intermediários Neonatais]”, afirmou, emocionada, a mãe.
Hoje, com três anos e três meses, Benjamim ainda conta com consultas ambulatoriais no HRT. O processo de acompanhamento faz parte do Método Canguru, que é referência no Hospital de Taguatinga. A técnica, considerada de baixo custo, ajuda a quebrar o paradigma de que o bebê prematuro precisa ficar isolado. Os profissionais aproximam a mãe do recém-nascido durante a internação, o que ajuda no desenvolvimento cerebral e estimula o aleitamento materno, além de promover vínculo com os pais.
De janeiro a agosto de 2023, o DF registrou 3.079 nascidos com menos de 36 semanas, o que representa 12,7% do universo de bebês nascidos neste mesmo período. Os recém-nascidos prematuros são submetidos às três etapas, quando possível, do Método Canguru. A primeira inicia-se no pré-natal, quando se identifica uma gestação de risco e a internação hospitalar, durante a qual o recém-nascido recebe assistência na Utin.
Depois que alguns critérios específicos são alcançados, mãe e bebê são transferidos para a segunda etapa, que corresponde à Unidade de Cuidados Intermediários Canguru (Ucinca). Nela, os dois permanecem juntos 24 horas por dia, o que faz com que os laços familiares se fortaleçam e a mãe passe a adquirir segurança em relação aos cuidados, o que permite a alta para casa.
Já a terceira etapa é iniciada em até dois dias após a alta, nas consultas ao nível ambulatorial. O acompanhamento é feito nos 24 leitos que compõem a unidade de neonatologia da rede pública de saúde. Nesta fase, a equipe multidisciplinar atua em conjunto. Fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, médicos e fisioterapeutas trabalham juntos para garantir o melhor desenvolvimento para o bebê prematuro.
“Normalmente, os atendimentos no ambulatório ocorrem uma vez por mês. Mas depende da situação de cada bebê. Se for um caso mais delicado, a gente prolonga o tratamento”, pontuou a médica neonatologista do HRT Juliana Carvalho Constantino. “É extremamente importante que os pais continuem com acompanhamento pós-UTI porque é no ambulatório que diagnosticamos a necessidade de encaminhamento para determinada especialidade.”
De acordo com Juliana, que também é médica de Benjamim, as sequelas do pequeno foram amenizadas graças à atuação presente da mãe e aos tratamentos mantidos no ambulatório do hospital.
Prevenção
Benjamim está prestes a ganhar um irmãozinho. Jéssica está grávida de 20 semanas. Depois da experiência que teve na última gestação e ciente dos riscos, a dona de casa adotou todas as medidas para que, desta vez, consiga levar a gravidez a termo.
“Agora sei que posso evitar outro parto prematuro. Já fiz o procedimento que eu deveria ter feito, a cerclagem [sutura no colo do útero para impedir que a cavidade uterina abra antes da hora e que a bolsa fetal desça, desencadeando o trabalho de parto prematuro]. Hoje, estou mais experiente e alerta”, revelou.
Em 2023, a campanha global do Novembro Roxo tem o tema “Pequenas ações, grande impacto: contato pele a pele imediato para todos os bebês, em todos os lugares”. A cor roxa simboliza a sensibilidade e a individualidade, que são características típicas dos bebês prematuros.
Em alusão à data, o DF é a primeira unidade da Federação a instituir uma comissão para estimular o uso do método canguru em recém-nascidos. A iniciativa foi oficializada pela Secretaria de Saúde (SES-DF) neste mês com a criação da Comissão Distrital do Método Canguru (CDMC) por meio da Portaria nº 446/2023. O objetivo é normatizar, monitorar e subsidiar as políticas e os programas de apoio à técnica.
Rede de atenção
Além do HRT, o Hospital Materno Infantil de Brasília (Hmib), o Hospital Universitário de Brasília (HUB) e os hospitais regionais de Ceilândia (HRC), de Sobradinho (HRS) e de Santa Maria (HRSM) ofertam atendimento em Utin. Os hospitais regionais da Asa Norte (Hran), de Planaltina (HRPL), do Gama (HRG) e o Hospital da Região Leste (HRL) possuem Unidade de Cuidados Intermediários Neonatais (Ucin).
O parto prematuro pode ocorrer por diversas causas. As mais comuns estão relacionadas com a saúde da gestante, como pré-eclâmpsia, diabetes gestacional e infecções. Segundo o Ministério da Saúde, 340 mil bebês nascem prematuros todo ano no Brasil, o equivalente a 931 por dia ou seis prematuros a cada dez minutos. Mais de 12% dos nascimentos no país acontecem antes da gestação completar 37 semanas, o dobro do índice de países europeus.
Alô Valparaíso/* Com as informações da Agência Brasília/Foto: Lúcio Bernardo Jr./Agência Brasília