Noites mal dormidas podem levar a consequências tanto físicas quanto mentais, alerta especialista
Sono reparador equilibra as funções do organismo por meio da diminuição do metabolismo
Após um dia exaustivo, normalmente, sentimos muito sono. Isso ocorre porque o nosso corpo deve descansar e, para isso, precisamos dormir. São necessárias, em média, para um adulto, entre sete e oito horas de repouso diário para um relaxamento reparador. Caso contrário, o impacto de noites mal dormidas pode levar a consequências tanto físicas quanto mentais, conforme alerta o cardiologista Paulo Henrique Godoy (foto abaixo), durante a XLI Jornada Científica do Hospital Universitário Gaffrée e Guinle (HUGG-Unirio), vinculado à Rede Ebserh/MEC. Esta é a semana em que se comemora o Dia Mundial do Sono, 18 de março, com intensificação de ações sobre o tema.
“Existe a necessidade de equilibrar as funções do organismo por meio da diminuição do metabolismo, para nos recuperarmos. Determinados circuitos nervosos são poupados durante o sono. Além disso, nos restauramos do cansaço imposto pela própria vigília (estado em que estamos despertos), fazemos a limpeza do lixo metabólico produzido pelo cérebro, conservamos energia, estimulamos o sistema imune e a reparação tecidual”, enumerou Godoy.
O sono é dividido em fases que podem ser medidas e estudadas por meio da polissonografia, exame realizado através de eletrodos fixados na pele com objetivo de detectar alterações no sono do paciente. É indolor e não invasivo.
O primeiro estágio é de sonolência, muito próximo ao estado de vigília, onde o indivíduo não dorme, mas relaxa. Durante o segundo estágio, chega-se a um sono leve intermediário, com o corpo entrando em um estado mais moderado, incluindo queda na temperatura, relaxamento muscular e respiração e batimentos cardíacos mais lentos. O terceiro estágio é o do sono profundo, fundamental para o descanso do corpo, em que a pessoa fica menos sensível aos barulhos externos, todo os músculos relaxam e a mente desliga, sem registro de sonhos. Por fim, o sono REM (Rapid Eye Moviments), que ocorre quando os movimentos corporais retornam e existe a presença de sonhos. As ondas cerebrais ficam ativas e a respiração e batimentos mais acelerados, lembrando o período de vigília. Porém, o corpo experimenta a atonia, que é uma paralisia temporária dos músculos, exceto olhos (daí a expressão REM) e os músculos que controlam a respiração.
“Por ser dinâmico, ocorrem despertares ao longo do processo, fazendo com que se retornem alguns estágios ao longo das horas de sono. À medida que o indivíduo está se aproximando do despertar vai diminuindo cada vez mais os estágios de sono profundo e entrando no sono REM”, continuou o especialista.
A importância da qualidade do sono é tão grande que, de acordo com Godoy, pesquisas já demonstram que indivíduos com déficit do sono tem, por exemplo, diminuição de anticorpos durante a vacinação em cerca de 50%. Além disso, durante o sono há consolidação de memórias adquiridas na vigília e fixação de aprendizado, já que neste período ocorrem repetições. Um descanso correto ajuda também na atenção, em atividades de tomada de decisão e na regulação emocional.
Impactos
Quando problemas relacionados ao sono ocorrem em indivíduos que dormem com facilidade e durante um período necessário, mas estão passando por interrupções periódicas ou estão dormindo pouco, provavelmente, será desencadeada a privação do sono.
“Está mais ligada, em princípio, aos distúrbios que ocorrem em curto prazo. Inicialmente acarretam fadiga, cansaço e desconforto social dentro do convívio. Pode evoluir, na medida em que o indivíduo não faz algo para interromper esse processo, para mudança na percepção de estado emocional. Alguém mais calmo se tornar mais agressivo, por exemplo”, explicou Paulo.
Já o indivíduo que demora a dormir costumeiramente ou aquele que demora a dormir e tem muitos despertares durante a noite, provavelmente, vai sofrer consequências relacionadas ao distúrbio do sono, com prazos maiores de duração.
“Os distúrbios estão ligados a diversas enfermidades, afetando quase todas as áreas da Medicina. Distúrbios crônicos do sono estão relacionados a doenças crônicas. Levam a envelhecimento precoce, diabetes, obesidade, aumento da pressão arterial, AVC, crises de asma, transtorno de humor, ansiedade, depressão e absenteísmo, por exemplo. Por isso, é importante, nesses casos, procurar tratamento em profissional relacionado à Medicina do Sono e saber que é um atendimento multidisciplinar, onde serão encontradas outras doenças relacionadas ao problema e se buscará o tratamento adequado e eficaz”, completou Paulo.
Além da procura por tratamento, em casos extremos, alguns hábitos podem ser adotados para que se busque um descanso qualitativo e reparador. “É necessário ter disciplina, organizar um ambiente tranquilo para descansar, afinal, o cérebro é treinado. Uma luz amarela, por exemplo, indica para o cérebro que está chegando a hora de dormir. Devemos evitar cochilos; procurar nos expor à luz solar durante o dia para o cérebro saber diferenciar dia e noite; cuidar da alimentação; usar a cama para dormir, apenas; criar horário para dormir e acordar; usar técnicas de relaxamento”, exemplificou Paulo.
A XLI Jornada Científica do HUGG-Unirio/Ebserh foi realizada na última semana de fevereiro.
Um descanso correto ajuda também na atenção, em atividades de tomada de decisão e na regulação emocional
Alô Valparaíso