Você sabe o que é autismo e como tratá-lo?
No Mês de Conscientização do Autismo, conheça o Transtorno do Espectro Autista (TEA), como reconhecê-lo e tratá-lo
O mês de abril foi escolhido pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2007, para chamar a atenção da sociedade para o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), um distúrbio do neurodesenvolvimento, caracterizado por manifestações comportamentais, déficit na comunicação e interação social, padrões de comportamento repetitivos e estereotipados, que podem levar o indivíduo a apresentar um repertório restrito de interesses e atividades.
Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria, esses sintomas configuram o núcleo do transtorno, mas a gravidade de sua apresentação é variável. O diagnóstico e intervenções precoces podem alterar o prognóstico e suavizar os sintomas.
De acordo com a neuropsicóloga do Hospital das Clínicas de Goiás-UFG/Ebserh, Beatriz Saba Ferreira Baramili, para um tratamento e acompanhamento adequados é necessário avaliar as necessidades individuais das pessoas com TEA, assim como para um bom planejamento e acompanhamento terapêutico. A equipe deve ser multiprofissional com fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional, psicólogo, pedagogo, neuropsiquiatra e psiquiatra.
Baramili ressalta, ainda, que os sinais de alerta podem ser percebidos nos primeiros meses de vida e o diagnóstico é feito por volta dos dois/três anos de idade. “A família precisa ser envolvida no tratamento e deve ter a consciência de que o indivíduo tem autismo para que possa ajudar a desenvolver a autonomia desse indivíduo no dia a dia”, ressalta.
Terapia comportamental e conscientização
Existem níveis diferenciados de autismo: leve, moderado e grave. Por isso, é necessário investigar, procurar um neuropediatra e buscar terapia e estimulações, antes mesmo do diagnóstico, pois quanto mais precoce, mais benefícios serão observados.
Segundo a coordenadora do Serviço de Neuropsiquiatria da Infância e Adolescência (NINA) do HC-UFG, Maria das Graças Nunes Brasil, o nível de gravidade do TEA é observado nos prejuízos da comunicação social e nos padrões de comportamentos restritos e repetitivos.
“No Nível 1 ou Leve, é necessário apoio para desenvolver a comunicação social e diminuir comportamento inflexível; no Nível 2 ou Moderado, o apoio deve ser mais substancial, pois há déficits graves para habilidades de comunicação verbal e não-verbal e dificuldades para lidar com mudanças; já no Nível 3 ou Grave, a comunicação social está muito comprometida no aspecto verbal e não-verbal, com prejuízo de funcionamento e limitação para iniciar interações sociais, os indivíduos são muito fechados e inflexíveis, têm dificuldade de lidar com mudanças e isso traz sofrimento e dificuldade para mudar o foco das ações. Quando gostam de uma determinada coisa eles não querem mudar. É necessária a intervenção de vários profissionais”, explicou Maria das Graças Brasil.
Hoje, segundo a especialista, o tratamento envolve a terapia comportamental, planejamento de horas semanais para terapia, participação de pais, familiares, cuidadores e educadores. Na escola, os professores são chamados para uma conversa e orientados.
O HC-UFG oferece atendimentos neuropediátricos, pela equipe da neurologista Maria das Graças Brasil, que realiza o diagnóstico dos pacientes. Eles são encaminhados para centros assistenciais de reabilitação, como a Associação Pestalozzi de Goiânia e outros serviços públicos como as Universidades, onde existem psicólogos, fonoaudiólogos e terapeutas ocupacionais. Nos casos mais graves que podem responder por medicamentos, o HC-UFG indica terapias.
Maria das Graças Brasil afirma que, apesar de não possuir causas totalmente conhecidas, há estudos que apontam que há multifatores que contribuem para que uma criança venha ao mundo com autismo, como estresse, exposição a substâncias tóxicas, desequilíbrios metabólicos, infecções e complicações durante o período de gravidez.
A neuropsicóloga Baramili fala da importância da conscientização da sociedade sobre o espectro autista: “O que esperamos é que a sociedade não trate os autistas com preconceito, pois eles possuem peculiaridades, dificuldades bem como habilidades, como qualquer um de nós. Temos que avaliar o que é possível melhorar na vida da pessoa autista, minimizar situações de estresse, mudar o ambiente”, salienta.
“No dia a dia, se vemos um autista com desorganização de comportamento, devemos ver de que modo podemos acalmá-lo, deixá-lo menos agitado ou irritado”, acrescentou Baramili. Segundo ela, “ é importante salientar que todo autista tem possibilidade de se desenvolver, de ter autonomia, estudar e estar no mercado de trabalho!”.
*Maria das Graças Nunes Brasil é médica neurologista e psiquiatra da infância e adolescência.; professora do Departamento de Saúde mental e Medicina Legal da Faculdade de Medicina da UFG; coordenadora do Serviço de Neuropsiquiatria da Infância e Adolescencia (NINA).
*Beatriz Saba Ferreira Baramili é neuropsicóloga do Hospital das Clínicas de Goiás – UFG/Ebserh; é graduada em Psicologia; especialista em Terapia Comportamental Cognitiva; terapeuta ABA; e neuropsicóloga.
Alô Valparaíso